segunda-feira, 8 de novembro de 2010

GROGUES, CEGAS E VIOLENTAS!

Maíra (guitarra) Cynthia (Bateria) Carol (baixo)

By Maíra Tito

O primeiro contato entre as Grogues, Cegas e Violentas! foi intermediado pelo produtor desse blog, Valquir Fedri, e não podia ter acontecido em local mais propício: o ônibus que levava o pessoal de Londrina para ver o show dos Sex Pistols em São Paulo, na volta da banda, em 1996. Eu havia comprado uma Sonelli semi-acústica dos anos 1960 do Valquir e ele havia me dito que eu devia conversar sobre montar uma banda com outras duas garotas que ele conhecia, a Carol Avansini e a Cynthia Ito. O papo na estrada, regado a cerveja e adrenalina pelo evento que iria acontecer à noite, rendeu o compromisso de um encontro para conversar.
Cheguei no apartamento das meninas com meia dúzia de latas de cerveja, me perguntando se eu estaria sendo inconveniente, mas fui recebida muito bem, e as cervejas foram recebidas melhor ainda (grogues!). A Carol e a Cynthia eram graduadas em jornalismo e estavam cursando Ciências Sociais na UEL. Eu fazia o terceirão no Maxi.
O primeiro ensaio também não poderia ter acontecido em local mais propício: a sala de espera de uma clínica ginecológica (hoje Casillero Bar), que naquele sábado estava fechada e pertencia ao pai do Raul um amigo nosso. Aquela tentativa tosca de interpretar covers de Verme (Garotos Podres), What do I get? (Buzzcocks), Train in Vain (The Clash), entre outras, naqueles instrumentos desafinados e sem a menor técnica, foi registrada pelo Valquir em vídeo. Ah! “Sem nenhuma técnica” é exagero: eu e a Carol havíamos tido um par de aulas de guitarra e baixo com o Humberto e Rodrigo, os Cherry Bomb, e a Cynthia tinha noções de bateria.



Primeiro Ensaio sala de espera de uma clínica ginecológica (hoje Casillero Bar)
Acervo: Valquir Fedri

O primeiro show foi no quintal da casa do David, no bairro Interlagos, reduto punk na época que concentrava as casas do Roxinho, David, e mais alguns que não lembro (grogue!). Nessa época já tínhamos músicas próprias como a que leva o nome da banda, “Grogues Cegas e Violentas!”, “Azar” e “Thirsty Girl”. A propósito do nome, surgiu espontaneamente da reunião de nossas características na época: o gosto pelos etílicos, o fato de usarmos óculos e termos um comportamento um tanto agressivo com quem tivesse a péssima ideia de antagonizar com alguma das três.



Teatro Zaqueu de Melo 11/12/1997 - Acervo: Valquir Fedri

Em pouco mais que três anos de banda, evoluímos muito musicalmente, a ponto de o último show, em dezembro de 2000, no legendário 92 Graus em Curitiba, ser realmente muito bom, ao menos na minha opinião e na das pessoas que o assistiram – umas 10, no máximo.
Éramos rápidas, precisas, tínhamos estilo e criatividade, embora a técnica não passasse muito do rock'n'roll básico. Alguns deslizes haviam ficado no passado, como quando começávamos a tocar uma música diversas vezes e parávamos ao perceber que não dava certo, porque cada uma estava tocando uma música diferente (cegas!). Os shows tinham, geralmente, um público razoável e empolgado. As influências variavam do punk 77 (nacional, americano e inglês) ao rock'n'roll dos anos 60 e outras coisas obscuras que cada uma curtia. Nesses anos de banda contamos com a colaboração de muitos amigos, como os Estilhaço, os Cherry Bomb, os Cyclone Pill, que sempre nos emprestavam equipamento, instrumentos e ajudavam no som. Ou os namorados (Roxinho, Cibié, Kiko, Lucas, Pablo, Osmar, Coxinha, Luiz Teddy) que nos levavam para casa depois de uma noite catártica e nem reclamavam no dia seguinte. Muitos outros que não lembro agora (grogue!) foram imprescindíveis para que essa história tenha sido escrita.
Mas se há uma marca que nos identificava mais do que as outras, era a ATITUDE. Estávamos entediadas com a cidade e com o mundo, queríamos chocar, éramos livres. Toda ideia de qualquer integrante da banda era bem-vinda, gerando um espaço de catarse (violentas!). Pixamos muros com letras dos Ramones, espalhamos isopor picado pelo Bar Potiguá, tocamos no anfiteatro do Zerão e no Teatro Zaqueu de Melo usando saias tão curtas que era provável que mesmo quem sentou nas fileiras mas distantes podia ver mais do que deveria.


Organizamos desfiles de moda punk, desprezamos a estética dominante com nossos coturnos e cabelos curtos. Desafiamos o machismo que impera até mesmo no circuito underground, deixando de nos privar de qualquer coisa que quiséssemos fazer, ainda que fosse costume restrito aos círculos masculinos. Invadimos palcos (ainda que em local não apropriado, como no show do IRA! no Clube Canadá). Ensopamos de cerveja os músicos nossos amigos (coitada da Rickenbaker do Humberto!). Pogamos. Viajamos para tocar em Curitiba, Guarulhos, Ibiporã, Cambé, Presidente Prudente. Nos orgulhávamos de não ser apenas as namoradas que seguram as jaquetas dos caras quando eles vão tocar e levam cerveja no palco para os amados. Estávamos no palco e estávamos lá para causar uma impressão.
A banda acabou quando a Cynthia casou-se e foi morar um tempo no Japão. Nosso legado é uma fita-demo (Grogues, Cegas e Violentas!) e um cd-demo (We're not nice girls for them), ambos gravados em estúdio, ao vivo e reproduzidos manualmente. São gravações simples, diretas e contundentes. Assim como foi a história das Grogues nas ruas de Londrina, uma Londrina muito diferente da de hoje, onde se podia comprar vinho na Adega da rua Brasil e sair bebendo tranquilamente pelas ruas frias e cobertas de nevoeiro na madrugada. Uma época autêntica, inesquecível, sem frescuras.



Teatro Zaqueu de Melo 11/12/1997 - Acervo: Valquir Fedri





CD gravado e mixado no estúdio Dinamus em Fevereiro de 2000

Fotos da Capa e contracapa - Rogério Ivano

Arte - Kiko

Para Download click aqui http://www.4shared.com/dir/oZhazWeg/sharing.html


Carta Manifesto que acompanhava o CD

Agradecimentos

Juan Diaz pelas digitalizações

Lucas Ricardo, pelos arquivos.


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

THE MANIAC ROCKERS



por Alexandre Salton de Souza Aranha “Preto Aranha”

Os dois amigos de infância, Alexandre Salton de Sousa Aranha e Luís Carlos Greco da Silva, andavam alucinados pelas ruas de Londrina, depois do contato que tiveram com os discos Sewertime Blues, The Meteors; The Full Custom, Gospel Sounds; The Reverend, Horton Heat e alguns outros tapes da Mad Sin e coletâneas com psychobilly europeu.

Lino, apelido que Luís Carlos ganhou, com os galeritos dos anos 80, no Conjunto Habitacional Gávea, não aguentava mais ter a fama de roadie da banda K'Bides e então, não demorou para que, Lino (vocal), Preto Aranha (guitarra) e Fabrício (bateria), convidassem também Diogo Bichão (baixo) e assim, formassem THE MANIAC ROCKERS uma insana banda de rock, que, traria letras de sangue esparramado pelo chão, sexo bruto e também, por quê não, falaria mal da vizinha gorda, da casa do lado debaixo, a necessidade era tocar o som que há tempo ouvia com os amigos, nas “quebradas dos igarapé mais podre” de Londrina: o PSYCHOBILLY.

Realizamos então o primeiro ENSAIO no dia dos mortos (02/11/94) no Jardim Alvorada, na mansão que só o pai e a mãe do Fabrícião, proporcionavam para os roqueiros doidos, molecada chupeta da cabeça. Era notório para os pais dos integrantes da banda que, estes, já estariam envolvidos com coisas do tipo, alucinógeno B, mas de qualidade A, foi então que perdemos o espaço de ensaio na mansão dos Santesso, migrando então os ensaios para o Gávea, na casa do Lino.

SHOWS: a banda começava a se apresentar em vários lugares, ULES, DCE, o falecido Bar Mecenas, point da city para shows de galerosos, chácaras regadas a muitas cervejas e garotas, campeonatos de skate, foram alvos constantes de apresentações da banda e até numa “casa de shows de luz vermelha”, no Jardim Bandeirantes, onde moças lá, ficavam sem calcinha por debaixo das saias e, estas sendo de couro, não mediam mais que 25 cm. As mulheres deste prostíbulo, nunca haviam visto topetes tão arrojados e, com certeza se hoje alguém perguntasse a elas, se sabem o que é PSYCHOBILLY, elas se lembrarão daqueles quatros jovens rockers arruaceiros.



Em abril/1996, o Fabrício deixava a banda nas vésperas das gravações de quatro músicas: ATTACK OF THE BÉQUI-MEN; I´M GONNA KILL YOU; SHE´S A VAMPIRE; ANDRADE para a coletânea PSYCHORRENDO. Precisávamos de um baterista urgente, pois já tínhamos o compromisso de enviar uma fita matriz pra São Paulo/SP, iríamos participar da primeira coletânea PSYCHOBILLY do Brasil em CD, a produção já estava atrasada, aguardando apenas a gravação, dos roqueiros maníacos, do interior do Paraná. Foi aí que, após tentativas frustradas com testes e retestes, para achar um batera, Lino resolveu então assumir o vocal e a bateria. A qualidade da gravação foi considerada por muitos, uma das melhores da coletânea. Com isso, a banda se tornava novidade e saímos pra tocar nas duas primeiras edições do Psycho Fest, festival de música psychobilly, que rolou no mesmo ano.

Em dezembro/1996, Bichão foi tentar a vida no Japão e deixou a banda, Arikiller, assumiu o baixo. Nesse ano, a banda se apresentou em alguns bares da city e a realização de um show marcante foi na favela da Marizia, próxima à Avenida Brasília, ali, os galerosos, os manos e as minas, cada um com um terçado na mão, estavam preparados a furar os roqueiros maníacos, se estes errassem qualquer nota, daquele psychobilly clássico. No decorrer da apresentação, a maloqueirada de plantão viu que os roqueiros, não eram flores que se cheirasse também, afinal, nunca nenhuma banda de rock tinha tocado naquele lugar e, depois de 7; 8 músicas a caixa amplificada, do dono do bar, queimou e fomos todos pro balcão, tomar cerveja com a galera doida. Esse show ficou conhecido como LIVE IN FAVELA 96. No fim de 1996, The Maniac Rockers gravou a demo-tape, A TUMBA, que traria dois hits: “Sangue Contaminado” (atualmente interpretada pela banda, The Brown Vampire Catz) e “A Tumba” (atualmente interpretada pela banda, Billys Bastardos), esses sons rodou o Brasil afora, diante dos contatos que o Lino, mantinha através de seu fanzine, Batmozine.

Em janeiro/1998, Arikiller se desentendeu com Lino e o Theo666, ex-Frenetic Trio, assume a baixaria. A banda recomeçava os ensaios, usava a casa de amigos como estúdio, depois de algum tempo, resolvemos ir pra Rolândia, ensaiar no estúdio do Pulga, ex-Cyclone Phill. O voyaginho branco bebia muita gasolina e então, Seu João, pai do Lino, interrompeu a ajuda de custo e assim, começamos a praticar no estúdio O PORÃO.

Foi aí que, em 05/1999, Theo666 resolveu deixar a banda por divergências que, com certeza não era o tipo de som e sim, somente divergência política uma vez que, Jaime Lerner, acabava de assumir o Governo do Estado do Paraná, Preto Aranha aproveitou a carona e deu linha na pipa também. Portanto, com a saída de ambos, Lino, sozinho, não daria continuidade na sonzera, marcando assim o fim da carreira da THE MANIAC ROCKERS que, com certeza, é tida como uma das principais bandas de rock alternativo de Londrina. É Importante lembrar que, a banda contou com participações relâmpagos como as de, Maguininho (baixo); Osmar Cavera (baixo); Camurça (bateria); Beiço (bateria) e Fernando (bateria) onde, estes realizaram 2; 3 shows com a banda.






Lino - Preto Aranha - Theo666

PARA DOWNLOAD DAS 04 FAIXAS DA COLETÂNEA PSYCHORRENDO

CLICK AQUI: http://www.4shared.com/dir/oZhazWeg/sharing.html


Agradecimentos.

Regina Fedri pela revisão de texto

Juan Diaz pela digitalização dos cartezes "Go Back o Show" "Brux" e "Nomad bar".

Videos acervo Valquir Fedri - Gustavo´s Bar 18/04/1998 - Lino - Preto Aranha - Theo666


segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ROTTEN ANGER


Tattoo Bar 1995 - acervo Valquir Fedri

INICIO: 1990 TERMINO: 2000

1990/1991 – Mosquito (vocal) Agnaldo (baixo/ vocal) Ivan (bateria) Cesar (guitarra)
1991/1993 - Mosquito (guitarra/vocal) Agnaldo (baixo/vocal) Ivan (bateria)
1993/1998 - Agnaldo (Guitarra/vocal) Ivan (bateria)
1998/2000 - Agnaldo (baixo/ vocal) Ivan (Guitarra) Kiko (bateria)

Formada no CINCÃO região Norte de Londrina em meados de 1990, ROTTEN ANGER fazia um som NOISE/CORE, muito barulho, protesto e pouca melodia.

ENSAIOS
: Os equipamentos eram bem precários, durante alguns anos a Banda ensaiou na casa do Ivan (bateria) nos finais de semana. No repertório além de vários sons próprios, tocavam covers de Bandas como: AGATHOCLES, V.N.A., SORE TROATH, entre outras.

Ensaio 1995, Agnaldo guitarra e vocal e Ivan batera

SHOWS: A banda tocou vem vários Festivais em Londrina, além do GRUPO organizar as cinco edições do FESTIVAL UNDERGROUND, neste festival era muita zoeira e loucura, durante dois dias bandas de grind/noise core de SÃO CARLOS, FRANCA , CAMPINAS, CURITIBA, LONDRINA se revezavam no palco. O 1º FESTIVAL UNDERGROUND OCORREU NO CONJUNTO JOÂO PAES, o 2º, 3º NO CONJUNTO SEMIRAMIS, todos os três CINCO CONJUNTOS, já o 4º 5º FESTIVAL UNDERGROUND aconteceram no BAR CHAPADÂO ZONA LESTE DA CIDADE. O grande auge de shows da Banda foi no interior de São Paulo (São Carlos, São José do Rio Preto, Mirassol, Fernandópolis, Porto Ferreira, Presidente Prudente, Campinas), enfim tocamos muito durante os 10anos de banda.

Festival em Franca SP _ 1991
Mosquito guitarra e vocal, Agnaldo baixo e vocal e Ivan bateria




GRAVAÇÕES: Durante os 10 anos da banda, foram registradas várias DEMOS-ENSAIO e ao vivo em fitas K7 a última gravação foi um CD DEMO. O que mais marcou foi participar de uma COPILAÇÃO “EDGE OF PAINFULL SENSATION” (1996) gravada em VINIL nesta coletânea nome importantes do NOISE/CORE (MAYHEM DECAY CUDGEL, CONFLITO FINAL E NOISE).
texto: Ivan


Capa da coletânea EDGE OF PAINFULL SENSATION – 12¨ LP 1996
NOISE / MAYHEM DECAY CUDGEL / ROTTEN ANGER / CONFLITO FINAL
DOWNLOAD: http://www.mediafire.com/?e2nhokq1ikq

terça-feira, 17 de agosto de 2010

THE SPAGHETTIES

foto: 1994
acervo: Lucas Ricardo
The Spaghetties - Londrina, jan-1994/fev-1996.
Marco Silva / guitarra
Humberto Scaburi / guitarra
Rodrigo Amadeu / vocal / baixo
Lucas Ricardo / bateria

Talvez, deva considerar a minha adolescência em Londrina, como algo do tipo "perdido entre o tempo e o espaço em algum paraíso jamais esquecido". Sei bem que a cidade não é mais a mesma, mas não tenho do que reclamar, deste lapso de memória, porque jamais vai parar de vir à tona em flashes, sons, odores, sabores e sensações, que de vez em quando me surpreendem em regurgitadas involuntárias.

Conheci três caras que como eu, gostavam, de ficar na beira do palco do D.C.E e do Gran Mausoléu. Isso foi no final de 1992 e começo de 1993, nesse ano, finalmente, fui expulso do colégio, após três reprovações, praticamente seguidas, além de dezenas de idas a diretoria, suspensões. Mas juro que nunca explodi banheiro nenhum, com bombas ou o diabo que o valha. Gosto de outro tipo de barulho.

Acabei levando a minha guitarra e o meu pequeno e pesado amplificador Staner, para o outro lado da cidade, pra tentar um ensaio, numa banda que não durou mais que alguns minutos. Caso tivesse dado certo, a formação relâmpago do boteco-promissor, “Teenage Depression,” teria sido moldada com o Creator na bateria, o Marcelo Galvan (ex-Fahrenheit 451) na outra guitarra, o Fabinho Punk (Depois do Fim) no baixo, além de mim. Alguns minutos de ensaio bastaram, pra descobrir, que a minha precária técnica e autoconfiança como guitarrista, não se encaixou com a deles naquele momento. Naquela noite de verão, voltei para casa, cansado e frustrado. Talvez, ali, já estivesse decidido, a não me importar tanto com a minha Gianinni Stratosonic.

Algumas semanas depois, o Marcelo, o Duda (ex-Fahrenheit 451) e o Daniel (baterista do Depois do Fim) criaram o Cyclone Pill, por outras vias, acabei sendo convidado para cantar, num ensaio de uma banda, de dois irmãos e um primo. Os caras estavam na pira, de fazer uma banda há um tempão, mas ainda não haviam definido nada.


Gravado em 1995 - Local de ensaio na Loja de Móveis Usados Boa Idéia.
Acervo: Valquir Fedri

Os Spaghetties aparecem realmente como banda no final de 1994, após meses de ensaios, porres e brigas. Também pudera, a banda era, essencialmente, formada por três caras da mesma família, com mais um adolescente desbocado e arrogante. A gente ensaiava no quarto do Marco, em escaldantes tardes de domingo. A barulheira contaminava a vizinhança e o também projeto de Igreja, "Poço de Água-viva", bem em frente a casa onde ensaiávamos, na Vila Brasil. Um "amigo" até pichou, na frente, algo do tipo "Deus não é surdo”. Nosso primeiro show foi numa tarde de sexta-feira, no mesmo colégio onde havia sido expulso, um ano antes. Creio que, no fundo, precisava trazer algo de volta, dar o troco de alguma maneira menos bíblica. A gente fez acontecer e a estreia foi certeira. Tocamos bem e com confiança. Na platéia do pátio havia somente uma meia dúzia de amigos, mais um monte de gente desconhecida, andando pra lá e pra cá. Estava rolando uma gincana, mas uma turma ficou pra ver a gente, no pátio do hall de entrada. Ainda éramos uma banda cover, tocávamos somente Ramones, Sex Pistols e Buzzcocks, às vezes, The Jam.

Talvez, tivesse tanto pra falar, sobre aquele período excitante da nossa primeira banda, o que aconteceu, na sequência é outra história. Esse tipo de diversão é sempre suculento e doloroso no decorrer dos anos. Isso é Rock and Roll. Rock and Roll, significa arte, por que não liberdade e prisão em forma de devoção e paixão, altos e baixos, brigas, aventuras, trapaças e amigos pra sempre.

Rodrigo Amadeu/32 – ex-vocalista e baixista dos "The Spaghetties".



Gravado em 1995 - Local de ensaio na Loja de Móveis Usados Boa Idéia.
Acervo: Valquir Fedri

Agradecimento
Regina Fedri - revisão do texto

domingo, 18 de julho de 2010

THE CHERRY BOMB - "Light Up The Town Garage Takes" - 2000



ESTE DISCO É DEDICADO A TODAS AS FIGURAS QUE AINDA SAEM DE CASA PARA DANÇAR AO SOM DO ROCKNROLL. (encarte CD)

THE CHERRY BOMB - “Light Up the Town Where the Garage Takes” (2000)

Por Felipe Teixeira

Lançado numa sexta-feira 13 em plena virada de século, “Light Up The Town Where the Garage Takes” registra um Cherry Bomb diferente dos álbuns anteriores. O público presente no show de lançamento, realizado no Teatro Zaqueu de Mello, talvez aguardasse os mesmos power chords com referências explícitas à escola nova-iorquina do rock setentista. Não foi bem assim.
A mudança de formação, com a entrada do baterista Rafael Moralez, e o aperfeiçoamento dos integrantes nas composições inéditas marcam uma linha divisória na discografia dos londrinenses. Logo no início, “Kinda Dream” arrebata o ouvinte com elementos formadores do DNA do Cherry Bomb: linha de vocais melódicos, refrões poderosos e o timbre agudo despido de efeitos. Clássico instantâneo com presença garantida em todos os setlists da banda.
Em seguida, Humberto Scaburi (guitarra / backing vocals) extrai de sua Rickenbacker toda a pureza necessária para conduzir a dedilhados “It’s fascinatin”, cantada em tom nostálgico por Rodrigo Amadeu (voz / baixo), principal compositor do grupo. Se “Real Good Times Together” soa repetitiva, “Alone In the Back Room” empolga ao flertar com o rockabilly e “Blind Sunshine” merece ser revisitada com um arranjo mais esmerado, caso a banda retorne à atividade.
“Light up the town” e “I`ll never close my heart”, apesar de novas, se assemelham à sonoridade punk rock da primeira fase. Por outro lado, “Young Mother” brilha pela literal “cantada” ao objeto de culto de Amadeu e demonstra um Cherry Bomb mais cadenciado e solto para solar. Escrita sob medida para qualquer discotecagem rock `n` roll. No final, o trio guarda “Outsider Soul”, faixa levada pelo refrão irresistível, direto ao ponto.
Em clima de ensaio gravado ao vivo, “Light Up The Town Where The Garage Takes” foi produzido por Valquir Fedri (Bonus Trash) e serviu de base ao repertório de “Disconnected Satellites”, disco sucessor e último registro do Cherry Bomb até o momento.

Observações: Além das músicas citadas acima, há regravações da fita K7 “Sad Songs for Happy Girls” (faixa título, Crazy for you e Tryin` again your love), do LP “Bombs to You” (My mind turns around the city e Your name is in my brain) e do CD “The Cherry Bomb” (Number one fan, Today I lose my pride e You better find). O disco também inclui versões de “So sad about us” e “La la lies”, do Who; “I`m your man”, de Richard Hell & The Voidoids e “Foot Tapper”, dos Shadows.
Felipe Teixeira - guitar/vocal da banda: DROOGIES www.myspace.com/droogies4

THE CHERRY BOMB _ Light Up The Town Garage Takes
Formação:
Humberto Scaburi - Guitarra
Rafael Moralez - Bateria
Rodrigo Amadeu - Baixo/Vocal

Múscas:
01 - Londrix Boulevard
02 - A Kinda Dream
03 - It´s Fascinatin´
04 - Real Good Times Together (Lou Reed)
05 - Sad Songs For Happy Girls
06 - Alone In Backroom
07 - Blind Sunshine
08 - I´m Your Man (Richard Hell)
09 - Crazy For You (Lucas Silva / Rodrigo Amadeu)
10 - Light Up The Town
11 - Number one Fan
12 - Today I Lose My Pride
13 - I´ll Never Close My Heart
14 - So Sad About Us (Pete Townshend
15 - You Better Find
16 - Young Mother
17 - My Mind Turns Around The City
18 - Foot Tapper (The Shadows)
19 - Tryin´Again Your Love
20 - Your Name In My Brain (Augusto Silva)
21 - La La Lies (Pete Townshend)
22 - Baby Oil
23 - Outsider Soul
Todas as Letras Rodrigo Amadeu (exceto as indicadas)

Ficha Técnica:
Gravação: Humberto Scaburi
Estúdio: Cherry Garage meados de 2000
Editado e Masterizado por Valquir Fedri
Arte: Fernando Sasaki

BAIXA AQUI O CD COM O ENCARTE + Zine PRODUTO DO ÓCIO edição especial
produzido por Rafael Moralez


Agradecimentos,
Juan Diaz pela digitalização do material gráfico para download
Felipe Teixeira pelo texto.



domingo, 6 de junho de 2010

VERMES DO LIMBO





Vermes do limbo é uma banda estranha com um som estranho. Sua formação enxuta – baixo e bateria – vai de encontro às formações convencionais dos grupos de rock.Desde 1996, formada por Cebola (baixo) e Pacola (bateria),Vermes intriga seus fiéis e devotados fãs com seu som fragmentado e antimelódico. Em 1998, lança sua primeira fita cassete pela Ordinary Records, e logo a seguir, com a participação de Fugita, “Esqueleto de la extremidad superior derecha de un feto de cinco meses” pela Accident Records. Em 2000, grava seu primeiro CD e, em 2001, o verme5, ambos pela Manufatura Vermes. Entre 2002 e 2007, Cebola e Pacola fazem um intervalo musical e param de tocar juntos. Agora, apresenta seu som lancinante pela noite paulista.Abraxxx Pacola

para ouvir e download

VERMES DO LIMBO (Puteiro Babylonia) 12/09/2009




VERMES DO LIMBO (Bendgy) 21/11/2009


VERMES DO LIMBO (cafeína) 06/02/2010

quarta-feira, 3 de março de 2010

CYCLONE PILL


FORMAÇÃO: Marcos Papazoglou (guitarra/voz) - Duda Victor (guitarra/voz) - Marcelo Galvan (baixo/voz) - Junior "Pulga" - bateria
INÍCIO: 1994 TÉRMINO: 1996

Cyclone Pill by Marcelo Galvan

Começava o ano de 1994, o Fahrenheit 451 havia acabado a cerca de um ano e meio, eu estava concluindo o curso de artes pela UEL e não tinha nenhuma perspectiva com relação à música, pouco antes, tentei formar o grupo, “Teenage Depression”, junto com o Rodrigo Amadeu, na guitarra, Eu no baixo e vejam só, Creator na bateria, chegamos a ensaiar no antigo buffet Carvalho, que era do pai do Daniel, baterista de várias bandas punk da city, chegamos a fazer até logotipo, acho que foi apenas um ensaio ou dois e o projeto ficou só nas idéias, trocadas durante as madrugas de um Potiguá perdido no tempo. No início o Daniel fazia parte do que viria a ser o Cyclone Pill, mas como ele tinha outras atividades, a banda acabou mesmo se fixando sem ele.
Eu frequentava o apartamento dos caras dos ex-Fahrenheit 451, o Dimas e o Duda, que moravam na mesma área, no edifício José Dias Aro no centro da cidade, o lugar era um amontoado de apartamento, nada hospitaleiro. Em uma dessas visitas, tive minha querida bicicleta roubada, na entrada do apartamento, que morava o Dimas, sempre nos encontravamos as cinco para o chá, tradição na pequena Londres daquela época.
O Duda morava junto com o Valquir no terceiro andar, e o Dimas com a família no térreo, nunca vou me esquecer de uma mudança que ajudei a fazer, tivemos que subir geladeiras, camas, guarda-roupas e uma pá de outros objetos sem a ajuda de um elevador. É um daqueles dias que você se arrepende de ter aparecido pra ajudar, mas a duras penas sobrevivemos.
Logo, conheci o Marcos (Grego) que é cunhado do Duda, um figura que tocava guitarra muito bem, volta e meia a gente se encontrava naquele famigerado apartamento, o Grego por sua vez era amigo dos Rockers de Rolândia, pois ele morava lá, entre os figuras de Rolândia, um baterista em especial, o Junior, vulgo (Pulga), que durante um bom tempo foi sócio da Brazik’s, uma loja de instrumentos usados que existia no centro comercial, uma das coisas legais do Pulga é que além de batera, ele tocava gaita e trompete, o que dava um brilho diferente em algumas músicas da banda.
Foi daí que surgiu o Cyclone Pill, influenciados por Velvet Underground, The Who, Mutantes, entre outros. A banda atuou em Londrina de 94 a 96, o nome foi sugestão minha, e saiu de um antigo e obscuro desenho da Warner Brothers, que vi numa tarde ensolarada e repleta de ócio. Neste desenho, um pato era o protagonista da história. Ele comia um comprimido, onde estava escrito Cyclone Pill e depois saia voando, como se estivesse completamente louco. Tocamos em vários lugares da cidade, repúblicas, bares e também em festivais. Um deles, foi o que deu início ao festival Demo Sul, foi na ULES e o nome era “1º Londrina Underground Scream”. Várias bandas da época se apresentaram como Cherry Bomb, Animal de Teta, Convulsão, Gólgota e Gaf, os poetas Augusto Silva e Herman Schimtz fizeram um fanzine, onde publicaram poesias e os releases das bandas e distribuíram a publicação durante o festival.
O Ciclone Pill gravou duas fitas demos, (era fita cassete a forma de divulgação das bandas na época); a primeira em 1994 gravada no estúdio do China chamava “Only a Vision”, tinha músicas em inglês. Nessa época, o Valquir Fedri, tinha uma câmera VHS e a gente gravou um vídeo clip para a música, “Word of the Saint TV (Only a Vision)”. O vídeo clip foi gravado em cima da Brazik’s com a participação do saudoso Dimas, do Alan filho do Duda, que ainda era um bebê, além de alguns manequins que estavam perdidos sobre a loja, na minha modesta opinião esse vídeo clip ficou bem legal, devidos a realidade técnica disponível na época; a segunda fita demo veio em 1996 chamava “Punkadavercanção” foi gravada pelo Duda, com a ajuda de Lincoln na mixagem no estúdio caseiro “Garagem Hermética”, no mesmo esquema que foi gravado também pelo Duda o 1º disco de Mário Bortolotto “Cachorros Gostam de Bourbom” que teve a participação de integrantes da banda, em Punkadavercanção a banda mudou a sonoridade e optou por gravar, parcerias com poetas londrinenses, com músicas em português e em inglês.
No final de 1996, o Cyclone Pill terminou, O Grego mudou para Curitiba, o Pulga vendeu a Brazik’s e passou a tocar seus projetos em Rolândia, Eu e o Duda como não poderíamos deixar de ser, começamos a pensar em um novo Grupo, é inacreditável, mas Daniel o mesmo do início, era o baterista, que depois se tornaria Búfalos d'água, mas essa banda é outra história.


GRAVAÇÕES - FORMATO FITA CASSETE


LADO A

1- Little Lie (letra: Tony Hara / Rogério Ivano)
2 - The Hot Blood (letra: Eduardo Lopes)
3 - Meditiatic Song (letra: Tony Hara /Rogério Ivano)

LADO B

1 - Word Of The Saint TV (Only a Vision) (letra: Eduardo Lopes)

2- Fusion (letra: Cyclone Pill)

Músicas Cyclone Pill
Gravado em março de 1995
no estúdio Audio Art


LADO A

1 - País do Carnaval (letra: Augusto Silva)
2 - Upon Reflection (letra: Lawrence Ferlinghetti)
3 - Ask (letra: Rodrigo Garcia Lopes)
4 - White Desire (Letra: Cesar Sumiya)
5 - Punkadavercanção (letra: Augusto Silva / Marcelo Galvan)

LADO B

1 - Ratoeira (letra: Marcelo Galvan)
2 - Walking on the City (letra: Mário Bortolotto)
3 - Joker's Sin (letra: Tony Hara / Rogério Ivano)

Músicas: Cyclone Pill
gravado no estúdio móvel GARAGEM HERMÉTICA

outubro/novembro de 1996

capa: Herman Schmitz / Marcelo Galvan

Video Clip gravado em abril de 1996 para o lançamento da Demo tape Only a Vision
Gravação e Edição: Valquir Fedri
Música: Word of the Saint TV (Only a Vision) letra: Eduardo Lopes




Centro Cultural de Rolândia - 30 de abril de 1996
Música: Upon Reflection (letra: Lawrence Ferlinghetti)




1º Londrina Underground Scream - Local: Ules Data 08 de Junho de 1996
Música: Fusion (letra/música: Cyclone Pill)




Cyclone Pill & Mário Bortolotto Lançamento do Livro "mamãe não voltou do supermercado"
Local: Livraria Lido Data: 29 de agosto de 1996





Videos acervo: Valquir Fedri
Revisão texto: Regina Fedri






sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

FAHRENHEIT 451





FORMAÇÃO: Dimas Gimenez (Vocal), Duda Victor (guitarra), Lincoln Alexandre (guitarra), Marcelo Galvan (baixo), Márcio Galvan (Bateria).

INÍCIO: 1990 TÉRMINO: 1992

Essa história deveria começar em 1990, que foi quando começamos a morar juntos em Londrina para estudar e aí formamos a banda. Mas na verdade essa história começou alguns anos antes. Em 1985 na cidade de Umuarama, formei uma banda junto com Marcelo Galvan, Rossano Totino, chamava Incógnito; o Márcio Galvan quando vinha a passeio na cidade, tocava bateria com a gente. Naquela época, sabíamos da existência de outro grupo de rock, que tocava a um tempão em Umuarama, chamava “General X”. Um dia, num clube dessa cidade, fomos participar de um evento, na passagem de som, enquanto esperávamos a nossa vez, entrou uns “caras” cabeludos, com seus jeans surrados, queriam participar do show e não sei porque não os deixaram participar, acho que os organizadores do evento ficaram com medo dos rapazes. Logo na sequência, nós conversamos pela primeira vez, então conheci o Dimas, o Lincoln, o Tantan e o Jumps, esse foi o primeiro contato que eu tive com os figuras. Já tinha os visto tocarem uma vez numa praça pública, achei muito legal o som. Eles eram mal vistos na cidade pelo visual que usavam, confesso que foi à primeira banda de rock que tive contato direto. Depois desse evento, começamos a trocar ideias. Em 1987 o Dimas passou no vestibular de Jornalismo na UEL e mudou para Londrina, o Valquir e o Lincoln foram com ele, moravam juntos, numa casa que alugaram. Em 1990 é que fui para Londrina cursar Educação Artística, aluguei uma casa de um quarto só, na rua Canudos em frente do restaurante universitário o Marcelo Galvan e o Valquir estavam comigo, nessa casa chegamos a morar em cinco pessoas, todos de Umuarama, dentro de um quarto, cozinha e banheiro. Começamos a fazer as primeiras músicas já que o Dimas morava na Casa do Estudante, ficava em frente e sempre estava com a gente. Não tínhamos grana para nada, éramos completamente “durangos”, mas sempre abastecidos de bebidas e drogas pelos camaradas que viviam passando por ali. Nessa casa se formou o Fahrenheit 451. Logo iniciou os ensaios e as composições. Havia muitas festas universitárias, shows de bandas na cidade. Um ano depois o dono da casa não aguentou mais e nos convidou a sair, então alugamos uma casa próximo ao Zerão. Essa era grande tinha dois quartos e sala. Um dos quartos ficou para os ensaios e a coisa pegou ritmo. Ensaiávamos quase todos os dias e montamos um repertório com umas sessenta músicas. Estávamos prontos para lançar a banda. Fizemos contato com a Gabi, dona do “Araucana”, que era um bar na rua Pernambuco e ali fechamos nosso primeiro show. Fizemos um cartaz bem legal, era uma foto do filme Fahrenheit 451, baseado em um livro de Ray Bradbury, de onde tiramos o nome. Colamos alguns cartazes pela cidade e fomos fazer o nosso primeiro show. Por incrível que pareça o lugar lotou. Foi uma daquelas noites loucas,todo mundo dançava, chapava ao som da banda. Estava feito os “rockers” mais “fudidos” e quebrados da cidade, mas éramos autênticos. Uma semana depois, voltamos no Araucana para o segundo show, como o primeiro foi muito bom. Começaram as festas em repúblicas e bares da cidade. Nossa casa no Zerão não fechava a porta nunca, dia e noite pessoas entravam e saiam, dormiam pelos cantos da casa, faziam suas loucuras. Às vezes eu chegava de madrugada e não tinha onde dormir. Um dos quartos estava sempre fechado com alguém, com alguma garota dentro. Morámos um ano nessa casa e foi o período mais forte da banda, onde aconteceu a maior parte das loucuras, sexo e consequentemente os problemas. Bebíamos muito, não tínhamos dinheiro. Criamos uma relação de convivência, aconteceram muitas coisas boas e algumas ruins, a convivência pesou devido às relações de cada um com as garotas. Vivemos três anos de muito sexo, drogas e rock’n’roll era o queríamos fazer naquela época. Recebemos até uma proposta com um bom cachê pra fazer um show, depois que a banda acabou, só que já não tinha mais clima. Não tem como escrever a história do rock em Londrina sem passar pelo Fahrenheit 451, influenciamos a molecada que começavam com suas bandas e as pessoas que iam aos nossos shows. Isso tudo aconteceu de 1990 até 1992. Com certeza foi “ducaralho” estar junto com esses figuraças e participar de tudo isso. Ficaram algumas lembranças, porque as coisas aconteceram muito rápidas, não dá para lembrar tudo, ficou uma relação entre nós e outros amigos que conheci e que será eterno.

ENSAIOS: No início, quando morávamos na frente do restaurante universitário, os ensaios eram feitos somente com violões, não tínhamos equipamentos e nem espaço. Depois mudamos para uma casa ao lado do Zerão. Nessa casa compramos o básico para iniciar, ensaiávamos quase todos os dias. Os vizinhos reclamavam muito, mas não adiantava. Uma vez, depois que o Dimas, o Marcelo e o Márcio mudaram para outra casa na rua Góias, chamávamos essa casa de “Repa”, fiquei sozinho no Zerão, então roubaram minha guitarra e um amplificador, um dos vizinhos disse: “Por que não roubaram a bateria?” Porque o Márcio batia muito forte e fazia muito barulho. Daí em diante, mudamos os ensaios para a “Repa”, que foi a última fase da banda, compramos mais equipamentos e melhorou um pouco a qualidade dos ensaios, mesmo sem ter acesso a equipamentos importados porque era muito caro. Logo começamos a preparar nossa primeira “Demo” que nunca terminamos. Fizemos também nessa casa algumas festas com som ao vivo e muitas loucuras, mas já não estava do mesmo jeito. Não tínhamos recursos para gravar, tentamos de várias maneiras, com equipamentos emprestados, ajuda de amigos, porém não tivemos bons resultados. O Bruno Iglesias, guitarrista da banda Gólgota, ajudou nas tentativas de gravações. Acho que esse é o principal buraco deixado pela banda, não gravar nada. Continuamos juntos por mais um ano, fazíamos ensaios, shows e profissionalizava mais a banda. Também desviamos do caminho por problemas pessoais de cada um e de todas as loucuras que aconteceram. Essa casa também durou um ano que foi a última fase da banda. Depois que entregaram à casa a banda acabou.

COMPOSIÇÕES: Como passávamos muito tempo juntos, fizemos várias músicas. Ainda lembro: Sunshine Makers, No Mans Land, Psicose, Sandman, O vento, Do you gonna do, She's my big bomb e muitas outras composições. Todos participavam, com ideias e depois fazíamos os arranjos.

SHOWS: Fizemos muitos shows. Tínhamos amigos de outras bandas como Gólgota,Psicodeath, Convulsão alias o Silvio, baterista, nos ajudou no começo, ele deixava a gente fazer alguns ensaios no estúdio, Quando o empresário Emerson Abelha abriu o Gran Mausoléu, o melhor bar de rock da cidade na época, trazia bandas de fora e convidava a banda Fahrenheit 451 para tocar junto. Um dia ele chamou a banda Cólera e convidou a gente para tocar, foi um show muito legal; no Zerão tocamos com uma banda gospel, Katsbarnéa, neste show os seguranças não deixavam a molecada subir no palco para pogar, mas o Dimas no final do nosso show intimou o público e o palco encheu, todos dançavam, agitavam, eu não conseguia ver os caras da banda. Fizemos shows em vários locais da cidade de Londrina e em algumas cidades pequenas do interior do Paraná. Algumas histórias engraçadas aconteceram. Uma delas ocorreu numa cidadezinha do interior, era o último comício do principal candidato da cidade. Nosso problema começou no hotel, porque antes de ir para o show, acendemos uns baseados, enquanto pegávamos os instrumentos, a porta do quarto ficou aberta, o cheiro se proliferou pelo hotel, vieram os responsáveis, ameaçaram chamar a polícia e saímos meio que na correria. Após o show as garotas nos cercaram para autógrafos e tal até pegaram os tênis do Dimas. Outro show muito divertido foi em Ponta Grossa, na verdade, nesse dia, uma banda não apareceu, então chamaram a gente para tocar no lugar deles, teríamos que dizer que éramos de São Paulo e pediram para que não falássemos muita besteira. O Dimas começou o show dizendo “boa noite Ponta Grossa, cidade fria pra ca...ramba”, isso esta gravado em alguma fita cassete perdida em algum lugar, depois ele anunciava um som, mas quando olhou pra trás o Márcio não estava na bateria, então disse: “assim que o baterista voltar”, ele estava no camarim se concentrando um pouco mais. Em Londrina fizemos um show no calçadão, tínhamos incluído no cachê uma garrafa de vodca, sempre exigíamos muito álcool em nossas apresentações. Não deram, porque achavam que poderíamos criar problemas. Ok. Aí tivemos que nos virar e arrumamos a nossa garrafa de pinga. Fiquei tão bêbado nesse show, que depois de algumas canções o Dimas perguntou ao público se queriam um som mais agitado ou uma balada. Eu, bêbado como estava, peguei o microfone e gritei “Rock’n’Roll”, para que tocássemos algo mais porrada. O Lincão me emprestou um pedal de guitarra já que ele não pôde tocar nesse dia. Eu perdi o pedal, ou pensei que tinha perdido, o achei um mês depois, atrás do amplificador.

Duda Victor – fevereiro de 2009.






Conheci a legendária banda Fahrenheit 451 em 1990, através do então estudante de jornalismo Tony Hara. Estava morando em São Paulo, meio que retornando a Londrina e ele me levou a uma república na rua, Paes Leme, perto do Zerão, de onde surgia uma música altíssima e de altíssima qualidade, se não me engano Buzzcocks. Espantou-me e como a música era bem tocada. Era um ensaio do Fahrenheit 451: Dimas de Jesus (Vocal), Duda Violada (Lead Guitar), Lincoln (Rithim Guitar), Marcelo Galvan (Bass Guitar) e Márcio Galvan (Drums). Posteriormente eles tocaram algumas composições próprias uma mistura bem dosada de hard rock 60, punk rock, uma pitada de Beatles e a adorável performance “Jaggeriana” de Dimas. Vale lembrar que lá também morava o Eduardo, ele não fazia parte da banda, mas era um agregado do grupo. Eles estavam em Londrina para supostamente estudar. Dimas fazia Comunicação, Marcelo e Duda Educação Artística, Márcio Computação e Eduardo um curso supletivo, mas o objetivo final era fazer Rock'n Roll. Eles eram todos de Umuarama e se espelhavam no exemplo de um amigo daquela cidade, Alex Totino, que acabou tocando na banda novaiorquina Das Damen. Ao final do ensaio conheci o pessoal e nasceu uma amizade que perdura até hoje. Lembro que nessa noite, ficamos conversando longamente na varanda da casa até quase o sol raiar, o assunto era logicamente rock'n roll, interessante o fato deles, gostarem de coisas sixties como mod e surf music (minha praia). O espectro de interesse deles incluía o blues e o jazz, foi a primeira vez que encontrei de uma só vez tantas pessoas com interesses semelhantes aos meus, inclusive em outras áreas como a literatura, eles adoravam a Beat Generation e o cinema, afinal Fahrenheit 451 é o título de um maravilhoso filme de Truffaut. Logo começamos a trocar informações. Eles vinham a minha casa para gravar fitas K-7, de coisas tão díspares que iam de Miles Davis a Beach Boys, passando pór Walter Smetak e Circle Jerks. Trocávamos livros e HQ's, às vezes eu tirava letras de músicas que eles pretendiam tocar, a mais insólita delas foi o tema do seriado infantil Banana Split, uns seis anos antes do CD Saturday Morning. Aos poucos o Fahrenheit 451 passou a se apresentar na cena underground londrinense. Eu destacaria particularmente duas em especial, a do lançamento do Fanzine Portugueis Klandestino de Tony Hara, Rogério Ivano e Tony Strauss, realizada no auditório interno da Concha Acústica e a da pós-inauguração do bar Gran Mausoléu do também lendário promoter Emerson Abelha, local onde se apresentaram literalmente todas as bandas relevantes do cenário independente brasileiro dos anos 90. Essas duas apresentações resumem muito bem o perfil da banda. A primeira foi um mix de literatura, poesia, artes visuais, happening e muito Rock'n Roll. Entre uma música e outra havia alguém que declamava um poema publicado no zine, do nada surgiam enormes sacos plásticos, vermelhos transparentes, cheios de ar que eram trucidados pelo público, nas paredes e no chão cartazes coloridos com frases retiradas do zine, trechos de letras das músicas do Fahrenheit colados de maneira aleatória como num cut-up de William Burroughs, proporcionavam múltiplas leituras, um primoroso trabalho de iluminação focava sob diversas cores não somente a banda, mas eventos programados ou não, que aconteciam na platéia. De certa forma essa proximidade do rock pesado com a literatura e a poesia inaugurada em Londrina pelo Fahrenheit 451 nessa apresentação, precede as bandas de Rock Poetry que temos hoje na cidade, como os Benditos Energúmenos e o Bonus Trash, ambas tiveram a participação do ex-Fahrenheit Duda Violada no elenco. A segunda inaugurou a série de shows histórica do Gran Mausoléu, que trouxe a Londrina, no início dos anos 90, bandas como Pin-Ups, Garage Fuzz, Cervejas dentre outras. Havia uma dúvida entre os organizadores do evento sobre qual seria a melhor banda para abrir a série de shows, a única unanimidade era que deveria ser uma banda de Londrina, havia outras bandas fantásticas na época como o Killing Chainsaw, Core, Convulsão e o Gólgota, decidiu-se então pela banda que mais tivesse a cara de Londrina e era a banda dos garotos de Umuarama. Eu como designer gráfico oficial do Gran Mausoléu, tive o prazer de fazer o cartaz desse show. O bar ficou superlotado, pela primeira vez uma banda da cidade conseguiu essa proeza. A apresentação foi algo sublime, a empatia com o público que lotava o local era total. O Dimas (vocal) tinha uma capacidade impressionante de interagir com a platéia. O curioso dessa apresentação do Fahrenheit foi o fato deles conseguirem juntar diversas tribos que aparentemente não se bicavam, como punks, headbangers e skatistas, num ambiente de pura festa. Muitas pessoas dessas tribos começaram a se falar graças a essa característica ecumênica que Fahrenheit 451 imputou ao Mausoléu nessa apresentação. O bar se tornou a partir daí o ponto de encontro de todos os que curtiam rock, sem distinção ou rótulos. Nesse show firmaria-se outra marca registrada da banda: a performance espetacular de Márcio Galvan na bateria, em grande parte, das músicas começaram a aparecer longos solos esmerados de bateria. Márcio era um aficionado por Gene Krupa, Art Blakey e John Bonham, de quem se espelhava para elaborar seus solos. Eu diria que esses foram os anos áureos do Fahrenheit 451, onde eles produziram suas melhores obras que podem ser conferidas em algumas demo-tapes e gravações de vídeo que perambulam pelas mãos dos arqueólogos do rock da cidade. A banda se desfez pouco tempo depois. Aquela república, que era um templo do rock, passou a ser frequentada por um bando de desocupados, meninos maluquinhos, suposto rockers, para quem o rock se resumia em Titãs e gruppies tresloucadas. Essas figuras impediram a continuidade do trabalho de criação dos garotos, atrapalhavam os ensaios, tentaram fazer do local uma filial de Woodstock, que ao final parecia mais com Gimme Shelter. As pessoas que de alguma forma contribuíam com a banda, passaram a não frequentar mais a casa. Dimas engravidou uma das gruppies e foi forçado a tomar jeito na vida, formou-se jornalista e começou a atuar na área. Márcio pirou total e depois de uma over da cidade foi morar com a mulher em Mato Grosso. O Lincoln mudou para Rolândia e começou tocar numa banda de blues, Blue Up. O Duda e Marcelo continuaram a fazer música em Londrina. Trabalharam com Mário Bortolloto na musicalização de poemas e formaram a banda Cyclone Pill, nessa época fiz minha última colaboração com os garotos, à letra da música White Desire presente no trabalho Punkadavercanção. A partir daí me ausentei de Londrina por sete anos, perdi contato com todos. Quando retornei tive uma grata surpresa: Marcelo e Duda formaram a banda Búfalos D'Água, de Surf Music (minha praia) e no trabalho que estavam elaborando regravaram White Desire com o nome de Surf Desire, numa releitura no melhor estilo Dick Dale.
As pedras continuam a rolar.

Relato Pessoal por Cesar Sumiya


Meu primeiro contato com a Banda Fahrenheit 451, foi no final de 1991, indireto e natural e posso dizer também que foi o meu primeiro contato verdadeiro com uma banda de rock and roll. A banda era comentada, por um bando de moleques, que ralava de skate, bicicleta e carrinho de rolimã, na ladeira, final da Rua Paes Leme, eram cabeludos aparentemente amigáveis da vizinhança. Num final de tarde, rodando com a molecada, eu finalmente escutei uma banda, tocava dentro de um quarto, numa das casas de madeira, próxima à esquina da Rua Paes Leme, que leva ao anfiteatro do Zerão, naquela época eu estava de férias e ia pra lá quase todos os dias, só voltava pra casa quando escurecia. Lembro que a banda tocava, enquanto nos ralávamos no asfalto. Na mesma época, andava com o Dudinha e alguns amigos da redondeza, que estudavam no “Vicentão”. Eu comecei a ver os cartazes colados pelas paredes dos botecos e padarias da redondeza, onde comprávamos paçoca, pão de sal e jogávamos fliperama. Uma vez, sem querer eu escutei um barulho que vinha do anfiteatro do Zerão, eles ensaiavam e eu peguei a passagem de som, acho que não era a banda completa naquela tarde, eram três e ali os vi pela primeira vez. Menos de um ano eu comecei a sair à noite, escutava os burburinhos da cena rock and roll em Londrina, era a época de bandas como Hard Money, que tocava os clássicos dos Ramones no D.C.E., das cervejadas no R.U., reuniam bandas como Chaminé Batom, Beco e claro Fahrenheit 451, a banda da casa de madeira. Eu imediatamente virei fã, desde a primeira vez em que os vi ao vivo, num lotado show gospel no anfiteatro do Zerão, numa tarde de sábado. Na mesma noite eles tocaram com Cólera no Bar Gran Mausoléu e após levar umas porradas na Rua Quintino, ainda consegui pegar o segundo show da banda naquele dolorido sábado. Depois de algum tempo, ainda rolavam cartazes de supostos shows dos caras, mas eles já haviam parado de tocar. Uma vez saí com uns amigos que seria no futuro os meus companheiros de banda, atrás de uma suposta festa que nunca existiu. Passou um tempo, fui num festival no Moringão e a banda estava no cartaz. Falei com o Marcelo (baixista), e ele disse que tocaria se os caras aparecessem. Ninguém apareceu. Certamente a banda já havia acabado há meses, foram colocados no cartaz porque os punks, organizadores do festival, eram fãs da Banda, época do Mausoléu e dividiram o palco com eles em noites alucinadas. Foi aí que fiquei amigo do Marcelo, ele estava terminando o curso de artes, tentamos montar uma banda juntos, o Teenage Depression, não rolou. O Marcelo e o Duda formaram o Cyclone Pill, e eu acabei engrenando com os meus novos irmãos do rock and roll, Os Spaghetties, as duas bandas daí em diante, tornaram meio que parceiras nos ensaios e nos shows. Isso foi em 1994 e as músicas do Fahrenheit 451 eu conheci, por fitas cassete, que o Duda nos emprestava para gravar. Estranho ter conhecido as músicas do Fahrenheit 451, muito tempo depois da banda ter acabado. Lembro de um show no Bar Gran Mausoléu, o público pedia para tocar, Do You Wanna Dance, só metade da banda sabia tocar a música e a outra metade pegou na hora, foi muito louco. Havia uns 15 punks que pulavam atrás de mim, eu não podia dançar direito porque havia acabado de perder o botão da minha calça jeans. Descanse em paz meu caro Dimas Gimenez: o resto é conversa.

Rodrigo Amadeu, fevereiro de 2009.