FORMAÇÃO: Dimas Gimenez (Vocal), Duda Victor (guitarra), Lincoln Alexandre (guitarra), Marcelo Galvan (baixo), Márcio Galvan (Bateria).
INÍCIO: 1990 TÉRMINO: 1992
Essa história deveria começar em 1990, que foi quando começamos a morar juntos em Londrina para estudar e aí formamos a banda. Mas na verdade essa história começou alguns anos antes. Em 1985 na cidade de Umuarama, formei uma banda junto com Marcelo Galvan, Rossano Totino, chamava Incógnito; o Márcio Galvan quando vinha a passeio na cidade, tocava bateria com a gente. Naquela época, sabíamos da existência de outro grupo de rock, que tocava a um tempão em Umuarama, chamava “General X”. Um dia, num clube dessa cidade, fomos participar de um evento, na passagem de som, enquanto esperávamos a nossa vez, entrou uns “caras” cabeludos, com seus jeans surrados, queriam participar do show e não sei porque não os deixaram participar, acho que os organizadores do evento ficaram com medo dos rapazes. Logo na sequência, nós conversamos pela primeira vez, então conheci o Dimas, o Lincoln, o Tantan e o Jumps, esse foi o primeiro contato que eu tive com os figuras. Já tinha os visto tocarem uma vez numa praça pública, achei muito legal o som. Eles eram mal vistos na cidade pelo visual que usavam, confesso que foi à primeira banda de rock que tive contato direto. Depois desse evento, começamos a trocar ideias. Em 1987 o Dimas passou no vestibular de Jornalismo na UEL e mudou para Londrina, o Valquir e o Lincoln foram com ele, moravam juntos, numa casa que alugaram. Em 1990 é que fui para Londrina cursar Educação Artística, aluguei uma casa de um quarto só, na rua Canudos em frente do restaurante universitário o Marcelo Galvan e o Valquir estavam comigo, nessa casa chegamos a morar em cinco pessoas, todos de Umuarama, dentro de um quarto, cozinha e banheiro. Começamos a fazer as primeiras músicas já que o Dimas morava na Casa do Estudante, ficava em frente e sempre estava com a gente. Não tínhamos grana para nada, éramos completamente “durangos”, mas sempre abastecidos de bebidas e drogas pelos camaradas que viviam passando por ali. Nessa casa se formou o Fahrenheit 451. Logo iniciou os ensaios e as composições. Havia muitas festas universitárias, shows de bandas na cidade. Um ano depois o dono da casa não aguentou mais e nos convidou a sair, então alugamos uma casa próximo ao Zerão. Essa era grande tinha dois quartos e sala. Um dos quartos ficou para os ensaios e a coisa pegou ritmo. Ensaiávamos quase todos os dias e montamos um repertório com umas sessenta músicas. Estávamos prontos para lançar a banda. Fizemos contato com a Gabi, dona do “Araucana”, que era um bar na rua Pernambuco e ali fechamos nosso primeiro show. Fizemos um cartaz bem legal, era uma foto do filme Fahrenheit 451, baseado em um livro de Ray Bradbury, de onde tiramos o nome. Colamos alguns cartazes pela cidade e fomos fazer o nosso primeiro show. Por incrível que pareça o lugar lotou. Foi uma daquelas noites loucas,todo mundo dançava, chapava ao som da banda. Estava feito os “rockers” mais “fudidos” e quebrados da cidade, mas éramos autênticos. Uma semana depois, voltamos no Araucana para o segundo show, como o primeiro foi muito bom. Começaram as festas em repúblicas e bares da cidade. Nossa casa no Zerão não fechava a porta nunca, dia e noite pessoas entravam e saiam, dormiam pelos cantos da casa, faziam suas loucuras. Às vezes eu chegava de madrugada e não tinha onde dormir. Um dos quartos estava sempre fechado com alguém, com alguma garota dentro. Morámos um ano nessa casa e foi o período mais forte da banda, onde aconteceu a maior parte das loucuras, sexo e consequentemente os problemas. Bebíamos muito, não tínhamos dinheiro. Criamos uma relação de convivência, aconteceram muitas coisas boas e algumas ruins, a convivência pesou devido às relações de cada um com as garotas. Vivemos três anos de muito sexo, drogas e rock’n’roll era o queríamos fazer naquela época. Recebemos até uma proposta com um bom cachê pra fazer um show, depois que a banda acabou, só que já não tinha mais clima. Não tem como escrever a história do rock em Londrina sem passar pelo Fahrenheit 451, influenciamos a molecada que começavam com suas bandas e as pessoas que iam aos nossos shows. Isso tudo aconteceu de 1990 até 1992. Com certeza foi “ducaralho” estar junto com esses figuraças e participar de tudo isso. Ficaram algumas lembranças, porque as coisas aconteceram muito rápidas, não dá para lembrar tudo, ficou uma relação entre nós e outros amigos que conheci e que será eterno.
ENSAIOS: No início, quando morávamos na frente do restaurante universitário, os ensaios eram feitos somente com violões, não tínhamos equipamentos e nem espaço. Depois mudamos para uma casa ao lado do Zerão. Nessa casa compramos o básico para iniciar, ensaiávamos quase todos os dias. Os vizinhos reclamavam muito, mas não adiantava. Uma vez, depois que o Dimas, o Marcelo e o Márcio mudaram para outra casa na rua Góias, chamávamos essa casa de “Repa”, fiquei sozinho no Zerão, então roubaram minha guitarra e um amplificador, um dos vizinhos disse: “Por que não roubaram a bateria?” Porque o Márcio batia muito forte e fazia muito barulho. Daí em diante, mudamos os ensaios para a “Repa”, que foi a última fase da banda, compramos mais equipamentos e melhorou um pouco a qualidade dos ensaios, mesmo sem ter acesso a equipamentos importados porque era muito caro. Logo começamos a preparar nossa primeira “Demo” que nunca terminamos. Fizemos também nessa casa algumas festas com som ao vivo e muitas loucuras, mas já não estava do mesmo jeito. Não tínhamos recursos para gravar, tentamos de várias maneiras, com equipamentos emprestados, ajuda de amigos, porém não tivemos bons resultados. O Bruno Iglesias, guitarrista da banda Gólgota, ajudou nas tentativas de gravações. Acho que esse é o principal buraco deixado pela banda, não gravar nada. Continuamos juntos por mais um ano, fazíamos ensaios, shows e profissionalizava mais a banda. Também desviamos do caminho por problemas pessoais de cada um e de todas as loucuras que aconteceram. Essa casa também durou um ano que foi a última fase da banda. Depois que entregaram à casa a banda acabou.
COMPOSIÇÕES: Como passávamos muito tempo juntos, fizemos várias músicas. Ainda lembro: Sunshine Makers, No Mans Land, Psicose, Sandman, O vento, Do you gonna do, She's my big bomb e muitas outras composições. Todos participavam, com ideias e depois fazíamos os arranjos.
SHOWS: Fizemos muitos shows. Tínhamos amigos de outras bandas como Gólgota,Psicodeath, Convulsão alias o Silvio, baterista, nos ajudou no começo, ele deixava a gente fazer alguns ensaios no estúdio, Quando o empresário Emerson Abelha abriu o Gran Mausoléu, o melhor bar de rock da cidade na época, trazia bandas de fora e convidava a banda Fahrenheit 451 para tocar junto. Um dia ele chamou a banda Cólera e convidou a gente para tocar, foi um show muito legal; no Zerão tocamos com uma banda gospel, Katsbarnéa, neste show os seguranças não deixavam a molecada subir no palco para pogar, mas o Dimas no final do nosso show intimou o público e o palco encheu, todos dançavam, agitavam, eu não conseguia ver os caras da banda. Fizemos shows em vários locais da cidade de Londrina e em algumas cidades pequenas do interior do Paraná. Algumas histórias engraçadas aconteceram. Uma delas ocorreu numa cidadezinha do interior, era o último comício do principal candidato da cidade. Nosso problema começou no hotel, porque antes de ir para o show, acendemos uns baseados, enquanto pegávamos os instrumentos, a porta do quarto ficou aberta, o cheiro se proliferou pelo hotel, vieram os responsáveis, ameaçaram chamar a polícia e saímos meio que na correria. Após o show as garotas nos cercaram para autógrafos e tal até pegaram os tênis do Dimas. Outro show muito divertido foi em Ponta Grossa, na verdade, nesse dia, uma banda não apareceu, então chamaram a gente para tocar no lugar deles, teríamos que dizer que éramos de São Paulo e pediram para que não falássemos muita besteira. O Dimas começou o show dizendo “boa noite Ponta Grossa, cidade fria pra ca...ramba”, isso esta gravado em alguma fita cassete perdida em algum lugar, depois ele anunciava um som, mas quando olhou pra trás o Márcio não estava na bateria, então disse: “assim que o baterista voltar”, ele estava no camarim se concentrando um pouco mais. Em Londrina fizemos um show no calçadão, tínhamos incluído no cachê uma garrafa de vodca, sempre exigíamos muito álcool em nossas apresentações. Não deram, porque achavam que poderíamos criar problemas. Ok. Aí tivemos que nos virar e arrumamos a nossa garrafa de pinga. Fiquei tão bêbado nesse show, que depois de algumas canções o Dimas perguntou ao público se queriam um som mais agitado ou uma balada. Eu, bêbado como estava, peguei o microfone e gritei “Rock’n’Roll”, para que tocássemos algo mais porrada. O Lincão me emprestou um pedal de guitarra já que ele não pôde tocar nesse dia. Eu perdi o pedal, ou pensei que tinha perdido, o achei um mês depois, atrás do amplificador.
INÍCIO: 1990 TÉRMINO: 1992
Essa história deveria começar em 1990, que foi quando começamos a morar juntos em Londrina para estudar e aí formamos a banda. Mas na verdade essa história começou alguns anos antes. Em 1985 na cidade de Umuarama, formei uma banda junto com Marcelo Galvan, Rossano Totino, chamava Incógnito; o Márcio Galvan quando vinha a passeio na cidade, tocava bateria com a gente. Naquela época, sabíamos da existência de outro grupo de rock, que tocava a um tempão em Umuarama, chamava “General X”. Um dia, num clube dessa cidade, fomos participar de um evento, na passagem de som, enquanto esperávamos a nossa vez, entrou uns “caras” cabeludos, com seus jeans surrados, queriam participar do show e não sei porque não os deixaram participar, acho que os organizadores do evento ficaram com medo dos rapazes. Logo na sequência, nós conversamos pela primeira vez, então conheci o Dimas, o Lincoln, o Tantan e o Jumps, esse foi o primeiro contato que eu tive com os figuras. Já tinha os visto tocarem uma vez numa praça pública, achei muito legal o som. Eles eram mal vistos na cidade pelo visual que usavam, confesso que foi à primeira banda de rock que tive contato direto. Depois desse evento, começamos a trocar ideias. Em 1987 o Dimas passou no vestibular de Jornalismo na UEL e mudou para Londrina, o Valquir e o Lincoln foram com ele, moravam juntos, numa casa que alugaram. Em 1990 é que fui para Londrina cursar Educação Artística, aluguei uma casa de um quarto só, na rua Canudos em frente do restaurante universitário o Marcelo Galvan e o Valquir estavam comigo, nessa casa chegamos a morar em cinco pessoas, todos de Umuarama, dentro de um quarto, cozinha e banheiro. Começamos a fazer as primeiras músicas já que o Dimas morava na Casa do Estudante, ficava em frente e sempre estava com a gente. Não tínhamos grana para nada, éramos completamente “durangos”, mas sempre abastecidos de bebidas e drogas pelos camaradas que viviam passando por ali. Nessa casa se formou o Fahrenheit 451. Logo iniciou os ensaios e as composições. Havia muitas festas universitárias, shows de bandas na cidade. Um ano depois o dono da casa não aguentou mais e nos convidou a sair, então alugamos uma casa próximo ao Zerão. Essa era grande tinha dois quartos e sala. Um dos quartos ficou para os ensaios e a coisa pegou ritmo. Ensaiávamos quase todos os dias e montamos um repertório com umas sessenta músicas. Estávamos prontos para lançar a banda. Fizemos contato com a Gabi, dona do “Araucana”, que era um bar na rua Pernambuco e ali fechamos nosso primeiro show. Fizemos um cartaz bem legal, era uma foto do filme Fahrenheit 451, baseado em um livro de Ray Bradbury, de onde tiramos o nome. Colamos alguns cartazes pela cidade e fomos fazer o nosso primeiro show. Por incrível que pareça o lugar lotou. Foi uma daquelas noites loucas,todo mundo dançava, chapava ao som da banda. Estava feito os “rockers” mais “fudidos” e quebrados da cidade, mas éramos autênticos. Uma semana depois, voltamos no Araucana para o segundo show, como o primeiro foi muito bom. Começaram as festas em repúblicas e bares da cidade. Nossa casa no Zerão não fechava a porta nunca, dia e noite pessoas entravam e saiam, dormiam pelos cantos da casa, faziam suas loucuras. Às vezes eu chegava de madrugada e não tinha onde dormir. Um dos quartos estava sempre fechado com alguém, com alguma garota dentro. Morámos um ano nessa casa e foi o período mais forte da banda, onde aconteceu a maior parte das loucuras, sexo e consequentemente os problemas. Bebíamos muito, não tínhamos dinheiro. Criamos uma relação de convivência, aconteceram muitas coisas boas e algumas ruins, a convivência pesou devido às relações de cada um com as garotas. Vivemos três anos de muito sexo, drogas e rock’n’roll era o queríamos fazer naquela época. Recebemos até uma proposta com um bom cachê pra fazer um show, depois que a banda acabou, só que já não tinha mais clima. Não tem como escrever a história do rock em Londrina sem passar pelo Fahrenheit 451, influenciamos a molecada que começavam com suas bandas e as pessoas que iam aos nossos shows. Isso tudo aconteceu de 1990 até 1992. Com certeza foi “ducaralho” estar junto com esses figuraças e participar de tudo isso. Ficaram algumas lembranças, porque as coisas aconteceram muito rápidas, não dá para lembrar tudo, ficou uma relação entre nós e outros amigos que conheci e que será eterno.
ENSAIOS: No início, quando morávamos na frente do restaurante universitário, os ensaios eram feitos somente com violões, não tínhamos equipamentos e nem espaço. Depois mudamos para uma casa ao lado do Zerão. Nessa casa compramos o básico para iniciar, ensaiávamos quase todos os dias. Os vizinhos reclamavam muito, mas não adiantava. Uma vez, depois que o Dimas, o Marcelo e o Márcio mudaram para outra casa na rua Góias, chamávamos essa casa de “Repa”, fiquei sozinho no Zerão, então roubaram minha guitarra e um amplificador, um dos vizinhos disse: “Por que não roubaram a bateria?” Porque o Márcio batia muito forte e fazia muito barulho. Daí em diante, mudamos os ensaios para a “Repa”, que foi a última fase da banda, compramos mais equipamentos e melhorou um pouco a qualidade dos ensaios, mesmo sem ter acesso a equipamentos importados porque era muito caro. Logo começamos a preparar nossa primeira “Demo” que nunca terminamos. Fizemos também nessa casa algumas festas com som ao vivo e muitas loucuras, mas já não estava do mesmo jeito. Não tínhamos recursos para gravar, tentamos de várias maneiras, com equipamentos emprestados, ajuda de amigos, porém não tivemos bons resultados. O Bruno Iglesias, guitarrista da banda Gólgota, ajudou nas tentativas de gravações. Acho que esse é o principal buraco deixado pela banda, não gravar nada. Continuamos juntos por mais um ano, fazíamos ensaios, shows e profissionalizava mais a banda. Também desviamos do caminho por problemas pessoais de cada um e de todas as loucuras que aconteceram. Essa casa também durou um ano que foi a última fase da banda. Depois que entregaram à casa a banda acabou.
COMPOSIÇÕES: Como passávamos muito tempo juntos, fizemos várias músicas. Ainda lembro: Sunshine Makers, No Mans Land, Psicose, Sandman, O vento, Do you gonna do, She's my big bomb e muitas outras composições. Todos participavam, com ideias e depois fazíamos os arranjos.
SHOWS: Fizemos muitos shows. Tínhamos amigos de outras bandas como Gólgota,Psicodeath, Convulsão alias o Silvio, baterista, nos ajudou no começo, ele deixava a gente fazer alguns ensaios no estúdio, Quando o empresário Emerson Abelha abriu o Gran Mausoléu, o melhor bar de rock da cidade na época, trazia bandas de fora e convidava a banda Fahrenheit 451 para tocar junto. Um dia ele chamou a banda Cólera e convidou a gente para tocar, foi um show muito legal; no Zerão tocamos com uma banda gospel, Katsbarnéa, neste show os seguranças não deixavam a molecada subir no palco para pogar, mas o Dimas no final do nosso show intimou o público e o palco encheu, todos dançavam, agitavam, eu não conseguia ver os caras da banda. Fizemos shows em vários locais da cidade de Londrina e em algumas cidades pequenas do interior do Paraná. Algumas histórias engraçadas aconteceram. Uma delas ocorreu numa cidadezinha do interior, era o último comício do principal candidato da cidade. Nosso problema começou no hotel, porque antes de ir para o show, acendemos uns baseados, enquanto pegávamos os instrumentos, a porta do quarto ficou aberta, o cheiro se proliferou pelo hotel, vieram os responsáveis, ameaçaram chamar a polícia e saímos meio que na correria. Após o show as garotas nos cercaram para autógrafos e tal até pegaram os tênis do Dimas. Outro show muito divertido foi em Ponta Grossa, na verdade, nesse dia, uma banda não apareceu, então chamaram a gente para tocar no lugar deles, teríamos que dizer que éramos de São Paulo e pediram para que não falássemos muita besteira. O Dimas começou o show dizendo “boa noite Ponta Grossa, cidade fria pra ca...ramba”, isso esta gravado em alguma fita cassete perdida em algum lugar, depois ele anunciava um som, mas quando olhou pra trás o Márcio não estava na bateria, então disse: “assim que o baterista voltar”, ele estava no camarim se concentrando um pouco mais. Em Londrina fizemos um show no calçadão, tínhamos incluído no cachê uma garrafa de vodca, sempre exigíamos muito álcool em nossas apresentações. Não deram, porque achavam que poderíamos criar problemas. Ok. Aí tivemos que nos virar e arrumamos a nossa garrafa de pinga. Fiquei tão bêbado nesse show, que depois de algumas canções o Dimas perguntou ao público se queriam um som mais agitado ou uma balada. Eu, bêbado como estava, peguei o microfone e gritei “Rock’n’Roll”, para que tocássemos algo mais porrada. O Lincão me emprestou um pedal de guitarra já que ele não pôde tocar nesse dia. Eu perdi o pedal, ou pensei que tinha perdido, o achei um mês depois, atrás do amplificador.
Duda Victor – fevereiro de 2009.
Conheci a legendária banda Fahrenheit 451 em 1990, através do então estudante de jornalismo Tony Hara. Estava morando em São Paulo, meio que retornando a Londrina e ele me levou a uma república na rua, Paes Leme, perto do Zerão, de onde surgia uma música altíssima e de altíssima qualidade, se não me engano Buzzcocks. Espantou-me e como a música era bem tocada. Era um ensaio do Fahrenheit 451: Dimas de Jesus (Vocal), Duda Violada (Lead Guitar), Lincoln (Rithim Guitar), Marcelo Galvan (Bass Guitar) e Márcio Galvan (Drums). Posteriormente eles tocaram algumas composições próprias uma mistura bem dosada de hard rock 60, punk rock, uma pitada de Beatles e a adorável performance “Jaggeriana” de Dimas. Vale lembrar que lá também morava o Eduardo, ele não fazia parte da banda, mas era um agregado do grupo. Eles estavam em Londrina para supostamente estudar. Dimas fazia Comunicação, Marcelo e Duda Educação Artística, Márcio Computação e Eduardo um curso supletivo, mas o objetivo final era fazer Rock'n Roll. Eles eram todos de Umuarama e se espelhavam no exemplo de um amigo daquela cidade, Alex Totino, que acabou tocando na banda novaiorquina Das Damen. Ao final do ensaio conheci o pessoal e nasceu uma amizade que perdura até hoje. Lembro que nessa noite, ficamos conversando longamente na varanda da casa até quase o sol raiar, o assunto era logicamente rock'n roll, interessante o fato deles, gostarem de coisas sixties como mod e surf music (minha praia). O espectro de interesse deles incluía o blues e o jazz, foi a primeira vez que encontrei de uma só vez tantas pessoas com interesses semelhantes aos meus, inclusive em outras áreas como a literatura, eles adoravam a Beat Generation e o cinema, afinal Fahrenheit 451 é o título de um maravilhoso filme de Truffaut. Logo começamos a trocar informações. Eles vinham a minha casa para gravar fitas K-7, de coisas tão díspares que iam de Miles Davis a Beach Boys, passando pór Walter Smetak e Circle Jerks. Trocávamos livros e HQ's, às vezes eu tirava letras de músicas que eles pretendiam tocar, a mais insólita delas foi o tema do seriado infantil Banana Split, uns seis anos antes do CD Saturday Morning. Aos poucos o Fahrenheit 451 passou a se apresentar na cena underground londrinense. Eu destacaria particularmente duas em especial, a do lançamento do Fanzine Portugueis Klandestino de Tony Hara, Rogério Ivano e Tony Strauss, realizada no auditório interno da Concha Acústica e a da pós-inauguração do bar Gran Mausoléu do também lendário promoter Emerson Abelha, local onde se apresentaram literalmente todas as bandas relevantes do cenário independente brasileiro dos anos 90. Essas duas apresentações resumem muito bem o perfil da banda. A primeira foi um mix de literatura, poesia, artes visuais, happening e muito Rock'n Roll. Entre uma música e outra havia alguém que declamava um poema publicado no zine, do nada surgiam enormes sacos plásticos, vermelhos transparentes, cheios de ar que eram trucidados pelo público, nas paredes e no chão cartazes coloridos com frases retiradas do zine, trechos de letras das músicas do Fahrenheit colados de maneira aleatória como num cut-up de William Burroughs, proporcionavam múltiplas leituras, um primoroso trabalho de iluminação focava sob diversas cores não somente a banda, mas eventos programados ou não, que aconteciam na platéia. De certa forma essa proximidade do rock pesado com a literatura e a poesia inaugurada em Londrina pelo Fahrenheit 451 nessa apresentação, precede as bandas de Rock Poetry que temos hoje na cidade, como os Benditos Energúmenos e o Bonus Trash, ambas tiveram a participação do ex-Fahrenheit Duda Violada no elenco. A segunda inaugurou a série de shows histórica do Gran Mausoléu, que trouxe a Londrina, no início dos anos 90, bandas como Pin-Ups, Garage Fuzz, Cervejas dentre outras. Havia uma dúvida entre os organizadores do evento sobre qual seria a melhor banda para abrir a série de shows, a única unanimidade era que deveria ser uma banda de Londrina, havia outras bandas fantásticas na época como o Killing Chainsaw, Core, Convulsão e o Gólgota, decidiu-se então pela banda que mais tivesse a cara de Londrina e era a banda dos garotos de Umuarama. Eu como designer gráfico oficial do Gran Mausoléu, tive o prazer de fazer o cartaz desse show. O bar ficou superlotado, pela primeira vez uma banda da cidade conseguiu essa proeza. A apresentação foi algo sublime, a empatia com o público que lotava o local era total. O Dimas (vocal) tinha uma capacidade impressionante de interagir com a platéia. O curioso dessa apresentação do Fahrenheit foi o fato deles conseguirem juntar diversas tribos que aparentemente não se bicavam, como punks, headbangers e skatistas, num ambiente de pura festa. Muitas pessoas dessas tribos começaram a se falar graças a essa característica ecumênica que Fahrenheit 451 imputou ao Mausoléu nessa apresentação. O bar se tornou a partir daí o ponto de encontro de todos os que curtiam rock, sem distinção ou rótulos. Nesse show firmaria-se outra marca registrada da banda: a performance espetacular de Márcio Galvan na bateria, em grande parte, das músicas começaram a aparecer longos solos esmerados de bateria. Márcio era um aficionado por Gene Krupa, Art Blakey e John Bonham, de quem se espelhava para elaborar seus solos. Eu diria que esses foram os anos áureos do Fahrenheit 451, onde eles produziram suas melhores obras que podem ser conferidas em algumas demo-tapes e gravações de vídeo que perambulam pelas mãos dos arqueólogos do rock da cidade. A banda se desfez pouco tempo depois. Aquela república, que era um templo do rock, passou a ser frequentada por um bando de desocupados, meninos maluquinhos, suposto rockers, para quem o rock se resumia em Titãs e gruppies tresloucadas. Essas figuras impediram a continuidade do trabalho de criação dos garotos, atrapalhavam os ensaios, tentaram fazer do local uma filial de Woodstock, que ao final parecia mais com Gimme Shelter. As pessoas que de alguma forma contribuíam com a banda, passaram a não frequentar mais a casa. Dimas engravidou uma das gruppies e foi forçado a tomar jeito na vida, formou-se jornalista e começou a atuar na área. Márcio pirou total e depois de uma over da cidade foi morar com a mulher em Mato Grosso. O Lincoln mudou para Rolândia e começou tocar numa banda de blues, Blue Up. O Duda e Marcelo continuaram a fazer música em Londrina. Trabalharam com Mário Bortolloto na musicalização de poemas e formaram a banda Cyclone Pill, nessa época fiz minha última colaboração com os garotos, à letra da música White Desire presente no trabalho Punkadavercanção. A partir daí me ausentei de Londrina por sete anos, perdi contato com todos. Quando retornei tive uma grata surpresa: Marcelo e Duda formaram a banda Búfalos D'Água, de Surf Music (minha praia) e no trabalho que estavam elaborando regravaram White Desire com o nome de Surf Desire, numa releitura no melhor estilo Dick Dale.
As pedras continuam a rolar.
Meu primeiro contato com a Banda Fahrenheit 451, foi no final de 1991, indireto e natural e posso dizer também que foi o meu primeiro contato verdadeiro com uma banda de rock and roll. A banda era comentada, por um bando de moleques, que ralava de skate, bicicleta e carrinho de rolimã, na ladeira, final da Rua Paes Leme, eram cabeludos aparentemente amigáveis da vizinhança. Num final de tarde, rodando com a molecada, eu finalmente escutei uma banda, tocava dentro de um quarto, numa das casas de madeira, próxima à esquina da Rua Paes Leme, que leva ao anfiteatro do Zerão, naquela época eu estava de férias e ia pra lá quase todos os dias, só voltava pra casa quando escurecia. Lembro que a banda tocava, enquanto nos ralávamos no asfalto. Na mesma época, andava com o Dudinha e alguns amigos da redondeza, que estudavam no “Vicentão”. Eu comecei a ver os cartazes colados pelas paredes dos botecos e padarias da redondeza, onde comprávamos paçoca, pão de sal e jogávamos fliperama. Uma vez, sem querer eu escutei um barulho que vinha do anfiteatro do Zerão, eles ensaiavam e eu peguei a passagem de som, acho que não era a banda completa naquela tarde, eram três e ali os vi pela primeira vez. Menos de um ano eu comecei a sair à noite, escutava os burburinhos da cena rock and roll em Londrina, era a época de bandas como Hard Money, que tocava os clássicos dos Ramones no D.C.E., das cervejadas no R.U., reuniam bandas como Chaminé Batom, Beco e claro Fahrenheit 451, a banda da casa de madeira. Eu imediatamente virei fã, desde a primeira vez em que os vi ao vivo, num lotado show gospel no anfiteatro do Zerão, numa tarde de sábado. Na mesma noite eles tocaram com Cólera no Bar Gran Mausoléu e após levar umas porradas na Rua Quintino, ainda consegui pegar o segundo show da banda naquele dolorido sábado. Depois de algum tempo, ainda rolavam cartazes de supostos shows dos caras, mas eles já haviam parado de tocar. Uma vez saí com uns amigos que seria no futuro os meus companheiros de banda, atrás de uma suposta festa que nunca existiu. Passou um tempo, fui num festival no Moringão e a banda estava no cartaz. Falei com o Marcelo (baixista), e ele disse que tocaria se os caras aparecessem. Ninguém apareceu. Certamente a banda já havia acabado há meses, foram colocados no cartaz porque os punks, organizadores do festival, eram fãs da Banda, época do Mausoléu e dividiram o palco com eles em noites alucinadas. Foi aí que fiquei amigo do Marcelo, ele estava terminando o curso de artes, tentamos montar uma banda juntos, o Teenage Depression, não rolou. O Marcelo e o Duda formaram o Cyclone Pill, e eu acabei engrenando com os meus novos irmãos do rock and roll, Os Spaghetties, as duas bandas daí em diante, tornaram meio que parceiras nos ensaios e nos shows. Isso foi em 1994 e as músicas do Fahrenheit 451 eu conheci, por fitas cassete, que o Duda nos emprestava para gravar. Estranho ter conhecido as músicas do Fahrenheit 451, muito tempo depois da banda ter acabado. Lembro de um show no Bar Gran Mausoléu, o público pedia para tocar, Do You Wanna Dance, só metade da banda sabia tocar a música e a outra metade pegou na hora, foi muito louco. Havia uns 15 punks que pulavam atrás de mim, eu não podia dançar direito porque havia acabado de perder o botão da minha calça jeans. Descanse em paz meu caro Dimas Gimenez: o resto é conversa.
Rodrigo Amadeu, fevereiro de 2009.